Histórias do nosso Hospital: Santa Cruz de Canoinhas completa 80 anos

Há oito décadas um grupo de abnegados canoinhenses chegava ao ponto alto de uma luta que tinha iniciado anos antes

7 de março de 1939 foi um dia mais que especial para Canoinhas. Depois de uma luta de anos, a cidade enfim ganhava seu Hospital de Caridade. Vasculhando os jornais da década de 1930 que circulavam por Canoinhas é possível ver o quão longa foi a jornada. Convites para festas, venda de rifas, bingos e afins tentavam juntar dinheiro para erguer o hospital.

Uma das figuras mais importantes nessa empreitada foi Thereza Gobbi. Sua neta, a médica Adair Dittrich, 85 anos, hoje aposentada, conta como tudo começou.

Segundo relatou Adair, em um artigo publicado no jornal Correio do Norte em março de 1989, por ocasião do cinquentenário do Hospital Santa Cruz de Canoinhas (HSCC), “Nona Thereza escrevia cartas, muitas cartas, que eram traduzidas do seu italiano-português pela professora Silvia Soares Schossland, ao idioma português. Estas cartas eram encaminhadas a empresários italianos radicados em São Paulo, pedindo ajuda para a construção de um hospital em Canoinhas. Um deles era o senhor Francesco Matarazzo”.

As cartas de Thereza nunca ficaram sem resposta. A ajuda sempre veio. Em dinheiro ou brindes que eram rifados e leilões nas festas que eram promovidas pela própria Thereza em prol da construção do hospital.

Quando fazia suas caminhadas pela cidade conduzida pelo automóvel do senhor Ricardo Muller, Thereza era festejada ou evitada, afinal sempre estava disposta a pedir ajuda para a construção do hospital. Certa vez, relatou Adair em 1989, um rapaz encostado à porta da Casa Verde (já extinta) resolveu ironizar a luta de Thereza perguntando “Aonde está este hospital fantasma que não enxergo?”. Rápida no raciocínio, Thereza desferiu: “Lá no alto do morro, com um leito reservado para vós, para quando dele necessitar em vossas mazelas”. O relato foi feito pelo próprio Muller à Adair.


 

 

A inauguração em 1939 foi marcada pela presença do interventor federal Nereu Ramos. A denominação oficial era Hospital de Caridade Santa Cruz, destinado ao atendimento de pacientes de toda a região, sob comando do Dr. Osvaldo de Oliveira. Abençoado pelo reverendo Frei Anacleto, as instalações do Hospital, um bloco com aproximadamente 200 metros quadrados, foram visitadas por um grande número de espectadores.

 

Depois da empolgação da inauguração, a grande dúvida sobre o HSCC: “Como vamos mantê-lo”, foi a pertinente pergunta feita pelo Dr. Osvaldo de Oliveira. Ao que Thereza respondia otimista – “Não se preocupe, nós damos um jeito”.

Assim, com inúmeras dificuldades, Thereza administrou os primeiros anos do HSCC, vendeu todas as suas joias, herança da família italiana, para pagar dívidas do Santa Cruz e hoje é lembrada pelo nome da UTI do HSCC.


 

A médica Tércia Consuelo de Oliveira Teles é neta do Dr Osvaldo de Oliveira, que não só foi o pioneiro profissional, mas também um dos que ajudou Thereza a erguer o prédio. Tércia também atuou por décadas como médica do HSCC. Ela conta que o que mais a marcou ao longo de tantos anos atuando no Hospital foi o companheirismo dos colegas médicos. “Éramos muito unidos, solidários. Lembro que as festas de réveillon começamos em casa e terminávamos no hospital porque um paciente precisava de ajuda. Era (um hospital) menor, hoje não sei se isso é possível”, conta.

PERSONAGENS PIONEIROS DESSA HISTÓRIA


 


*** Nos 20 anos do HSCC, as irmãs vicentinas eram quem administrava o hospital. Uma nova ala, iniciada dez anos antes, estava concluída. “O Hospital Santa Cruz é hoje considerado um dos maiores do Estado, com amplas e modernas instalações”, dizia texto publicado no jornal Correio do Norte. O mesmo texto lembrava que uma nova ala estava em construção.

 


 

 

***Victor Soares de Carvalho, pai de Aloisio Soares de Carvalho, recém-falecido, chegou a Canoinhas em 1908. Instalado na rua Francisco de Paula Pereira, quando Canoinhas ainda se chamava Santa Cruz de Canoinhas e era distrito de Curitibanos, Victor criou um comércio de compra e exportação de erva-mate para a América do Sul. O comerciante comprava erva-mate dos colonos canoinhenses e revendia para o exterior. Dessa forma construiu um bom patrimônio na cidade.

Foi ele quem doou as terras onde até hoje está instalado o HSCC.


 

***Há raros registros sobre outros nomes apontados como decisivos para a fundação do HSCC. Casada com Roberto Ehlke (o Robertão), Dona Amélia Wendt, lapeana de bom coração, que teve três filhos biológicos e um adotivo com Ehlke, foi uma parceira constante de Thereza na busca pela concretização do sonho do Hospital, mas morreu sete anos antes de ver o sonho concretizado. Em vida, no entanto, fez diversas campanhas filantrópicas em favor da causa.

Hoje, Dona Amélia dá nome ao bairro onde outrora existia a invernada Robertão, então reduto da família.

Outras parceiras importantes de Amélia e Thereza, na luta pela concretização do hospital foram Roza Budant, Emídia Carneiro e Margarida Pavão.


 

*** Em 1949, quando o hospital completou sua primeira década, o jornal Correio do Norte publicou uma entrevista com o então presidente da entidade, João Seleme. “O hospital já não corresponde às necessidades do município”, assinalou o presidente. À época, mais de 70 pacientes eram atendidos por mês. Hoje passam das 500. Cinco médicos clinicavam no Hospital, auxiliados por quatro enfermeiras. As Irmãs de Caridade eram responsáveis pela administração do HSCC.

Seleme informou que o HSCC tinha em caixa 200 mil cruzeiros, que seriam investidos na terceira obra de ampliação do prédio.

Testemunhos vivos da história

Antonio Merhy Seleme, 83 anos, passou boa parte de sua vida profissional dentro do HSCC. “Havia poucos recursos, não havia laboratórios em Canoinhas, tinha somente um aparelho de raio-X e precisávamos de três dias para revelar uma chapa”, conta em entrevista ao projeto Raízes de Canoinhas publicada em agosto passado.

Irma Augusta Blosfeld, 82 anos, trabalhou entre 1972 e 2003 no HSCC. Por seis meses foi cozinheira, mas os médicos achavam que ela levava jeito mesmo era para enfermeira. Foi assim que ela começou o exercício da profissão da qual guarda boas lembranças.


 

Maria Bobko Rosa, 64 anos, também começou a trabalhar no HSCC em 1972. Deixou o hospital em 2009 depois da aposentadoria. Por doze anos foi enfermeira do HSCC. Com talento para os números acabou cursando Contabilidade e por 25 anos foi responsável pelo setor financeiro do Hospital.


 

Aos 70 anos, Anita Rang ainda trabalha no HSCC, onde começou em 1978 na lavanderia e hoje trabalha como costureira. É sua responsabilidade consertar uniformes, roupas de cama e as usadas pelos pacientes.

 

Inedina Schmidt Camargo, 58 anos, trabalha como auxiliar de cozinha no HSCC desde 1983.


 

Maercy Dambrowski está há 18 anos e meio trabalhando como auxiliar de enfermagem no HSCC. Ela fala do amor a profissão.

 

O Santa Cruz aos 80 anos

Quando Thereza Gobbi começou os trabalhos para erguer o HSCC, certamente pensava no que ele poderia se tornar. Hoje o HSCC atende perto de 500 pacientes por mês, cerca de 70 são gestantes. São pelo menos 250 cirurgias mensais. Abaixo, o que é o HSCC hoje.


 


 

 

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